A Memória

 

    A memória humana é um sistema complexo que, apesar da sua enorme capacidade e importância, pode revelar-se inesperadamente infiel. Todos nós nos queixamos, por vezes, de que a nossa memória é má. Mas, pelo contrário, trata-se de um sistema excelente sem o qual não existiria aprendizagem, as relações interpessoais seriam impossíveis e passaríamos a viver um eterno presente, como se estivéssemos a aprender tudo de novo, como se fosse um ciclo viciante em que não conseguiríamos reter rigorosamente nada.

    A memória é o sustentáculo das nossas aprendizagens, pois é ela que conserva aquilo que se aprendeu. É portanto, o suporte essencial de todos os processos de aprendizagem, permitindo ao ser humano um sistema de referências relativas à sua experiência vivida e ao reconhecimento de si como pessoa dotada de identidade própria.

    O conceito de aprendizagem como mudança sistemática da conduta supõe implicitamente a memória como condição de conservação da resposta aprendida. Na realidade, a memória é o fundamento de todos os comportamentos e conhecimentos dos seres humanos, é um processo cognitivo que consiste na retenção, codificação e armazenamento e na evocação das informações, conhecimentos, acontecimentos, expectativas, conceitos, ideias e sentimentos.

    Sem memória, as aprendizagens estariam permanentemente na fase de aquisição, isto é, não ter memória seria o mesmo que não ter aprendido nada, estaríamos sempre no ponto zero. Aprendizagem e memória são processos indissociáveis na medida em que, por um lado, uma conduta só se considera aprendida ser for retida ou memorizada e, por outro, só se pode reter o que foi aprendido. É a memória que nos permite representar ao mundo. Não há nada pior que para um ser racional do que sofrer uma doença que afeta deveras a sua memória: perdemos tudo o que fomos ao longo da vida, viver na perda progressiva da memória é igual a uma morte em vida numa vida que já não se sente como sua. Sem memória, não somos seres humanos, pois é a memória que assegura o facto de sabermos “quem” somos, a nossa identidade pessoal. Não ter memória seria o mesmo que não ter aprendido nada!

    A memória inclui quatro momentos: receção e codificação onde a informação recebida tem de ser devidamente preparada para que o armazenamento possa ser feito; armazenamento, depois do tratamento das informações, estas são guardadas num grande depósito; recuperação, sempre que necessitamos de uma informação, há que ir procura-la ao armazém; esquecimento, os dados mnésicos perdem-se com o tempo e, este desaparecimento vai permitir adquirir conteúdos novos. De acordo com esse modelo, podemos falar de três tipos de memória: sensorial, a curto prazo e a longo prazo.

    A memória sensorial regista as impressões visuais, auditivas, olfativas ou táteis sem as processar, e conserva-as durante um quarto de segundo. Se não se prestar atenção aos dados da memória sensorial, eles perdem-se; se se lhes prestar atenção, eles codificam-se e passam à memória a curto prazo.

    A memória a curto prazo é uma área iluminada, é o centro consciente por onde passam as lembranças de que nos servimos em dado momento. As lembranças são aí “visíveis” por vagos minutos.

    Se houver repetição, as informações mantêm-se por mais tempo nesta memória, se houver interferências, deterioram-se e desaparecem. Tem por função selecionar as lembranças, enviando as mais significativas para a memória a longo prazo.

    A memória a longo prazo é o armazém de um grande número de informações, onde ficam retidas por tempo indeterminado, até que a memória a curto prazo as venha buscar para serem utilizadas.

    Muito do que se aprende esquece-se, passa por alterações deturpadas ou desaparece com o tempo. A deturpação do traço mnésico pode relacionar-se com falhas na codificação, no armazenamento ou na recuperação.

    Uns dos fatores do esquecimento são as outras aprendizagens, capazes de interferir nos conteúdos mnésicos, de forma proactiva ou retro.

    Freud explicou o esquecimento com razões inconscientes, defendendo que apenas esquecemos o que nos interessa esquecer. Chamou recalcamento ou repressão à tendência que os seres humanos têm de evitar inconscientemente a recordação de certas impressões e situações penosas. As lembranças penosas são recalcadas, para não surgirem na zona clara da memória onde podem determinar sentimentos incomodativos.

    O esquecimento apresenta uma dimensão positiva, na medida em que filtra os conteúdos mnésicos, eliminando os de menor interesse e permitindo novas aquisições.

    Após esta reflexão posso concluir que para que uma memória seja eficaz, é preciso compreender o teor da informação, dependendo esta da motivação e do interesse que a questão suscita em cada um. Quanto maior for a compreensão do conteúdo e a intensidade da ligação entre ele e os nossos restantes conhecimentos, maior a durabilidade da memória. A memória é fundamental na vida dos seres humanos, na verdade é a base do conhecimento para todos nós. Perder a memória é perder o nosso sentido de humanidade, pois a memória é o nosso património individual que nos torna únicos e nos assegura a nossa identidade pessoal. Sem memória não é possível viver.

    Proponho o visionamento do filme “Memento”, onde a personagem principal perdeu a sua identidade devido à falta de memória que sofria, adquirindo a identidade de outra pessoa. Aqui deixo o link onde é possível ver o filme completo https://www.youtube.com/watch?v=g7y1_Z2zths

 

Bibliografia: 

 
- Natércia Rodrigues, 12ºA nº17