A Cultura Indiana

 

            Iniciámos o 2º Período com o estudo da Cultura, onde visualizámos o filme “Água - As margens do Rio Sagrado”, onde é abordada a cultura Indiana. A partir deste tema vou elaborar a minha reflexão pessoal, começando por fazer uma pesquisa sobre a cultura e, em seguida, irei restringir-me a um exemplo concreto, a cultura indiana, que suscitou o meu interesse quando vi o filme e, por isso, resolvi aprofundar e descobrir um pouco mais acerca desta cultura.

            A sociedade é um conjunto de pessoas que se relacionam entre si e de uma forma civilizada. O modo de vida próprio de uma sociedade é o que se pode designar por cultura, a qual se manifesta por formas específicas e divergentes.

            A cultura é a herança social constituída por condutas, ideias, costumes, sentimentos, atitudes e tradições comuns a uma coletividade e transmitidos à geração seguinte. Não se conhece uma única sociedade que não tenha criado um sistema de crenças, valores, normas, hábitos e conhecimentos, associado aos atos de nascer, alimentar-se, reproduzir-se ou morrer. Assim, a cultura é a série completa dos instrumentos não geneticamente adquiridos pelo homem, bem como todas as facetas do comportamento adquiridas após o nascimento.

            Mais do que qualquer outra característica ou capacidade, a marca registada da espécie humana parece ser a sua enorme capacidade de aprender e de se ajustar ao meio através da cultura. Esta capacidade de adaptação inclui ambientes tão distintos e tão aparentemente hostis à nossa natureza como a selva equatorial, o deserto ou as vastas regiões polares. É precisamente esta capacidade do ser humano para se adaptar ao meio, transformando-o e reinventando-o através da cultura, que parece distingui-lo dos outros animais.

            A cultura está presente em todas as sociedades e constitui o mais bem sucedido mecanismo de ajustamento de uma espécie ao seu meio. Desempenha um papel decisivo no duplo caráter da espécie humana: a sua unidade e a sua diversidade.

            Ao percorrermos as diversas sociedades encontramos um conjunto de características que, no essencial, estão presentes em todas as culturas, como uma língua ou grupo comum de línguas, uma história (oral e/ou escrita), uma religião dominante ou um conjunto de crenças religiosas, uma série de costumes e de valores nucleares, sistemas de organização social, incluindo normas de conduta pessoal, familiar e social, artefactos únicos dessa sociedade (pintura, música, escrita, literatura, dança, teatro, etc.), hábitos alimentares e sanitários socialmente aceites, uma moral comum, entre muitos outros elementos.

            À medida que nos afastamos no tempo e /ou no espaço verificamos, porém, que cada um destes aspetos pode assumir expressões muito diferenciadas e, por vezes, antagónicas. O que é correto, adequado e quotidiano num determinado contexto não o é necessariamente noutro, podendo confundir-se com bizarria, ou ser, por exemplo, gerador de repulsa para um qualquer espetador exterior.

            Assim, embora, em sentido abstrato, a cultura seja universal, a verdade é que em cultura não há universais, mas antes uma enorme diversidade ou variação que nos obriga a falar de modelos concretos ou padrões culturais.

            Padrão cultural é uma forma coletiva e específica de conduta cultural que uma sociedade estabelece como ideal, que visa a normalização do comportamento dos indivíduos de uma dada sociedade, possibilitando a satisfação das suas necessidades mas também a previsibilidade dos comportamentos dos seus membros.

            A vida em sociedade seria impossível e caótica, caso não existissem formas relativamente estáveis e padronizadas de conduta, sem a existência de códigos culturais de regras de vida em comum. É necessário que cada ser humano aprenda, interiorize, partilhe e valorize as suas orientações dos meios sociais e culturais em que se desenvolverá a sua vida. O processo pelo qual o individuo adquire padrões de comportamento e de pensamento, característicos dos seus grupos de pertença designa-se socialização. A socialização atravessa toda a vida dos indivíduos, desde o nascimento até à morte. É um processo interativo, mútuo, que afeta sempre o comportamento e a conduta de todos os seus participantes. O ser humanos é um agente socialmente ativo, não se limita a ser um recipiente passivo, um guardião de uma tradição cultural transmitida socialmente, constrói-se, participa, interpreta, rejeita, recria e renova permanentemente o seu ambiente social. Sem socialização, nem o ser humano nem as sociedades seriam viáveis, logo o ser humano não é apenas um produto do seu meio, mas também um produtor cultural.

            A linguagem permite ao ser humano conservar, transformar e transmitir cultura. A linguagem é assim, o instrumento que possibilita a comunicação com o outro e a condição que viabiliza o pensamento. Aliás, os relatos das crianças selvagens transmitem a importância vital das interações sociais precoces para o aperfeiçoamento da linguagem e de todos os processos e capacidades a ela associados. A forma como cada um interpreta e organiza (auto-organização) a experiência vivida condiciona a sua vida intra e interpessoal.

            O ser humano está desde sempre condicionado por múltiplos fatores (internos e externos). Características biológicas, influências socioculturais e experiências vividas. A interdependência entre características genéticas, cerebrais e culturais do ser humano confere-lhe uma enorme diversidade na aparência física, nos modos de ser, de pensar e de agir.

            Em suma, a cultura é uma comunidade, a socialização enquanto processo de integração nessa comunidade e normas e os padrões cujo seguimento permite tal integração são os fatores de ordem aprendida que nos permitem atualizar e completar a nossa natureza humana. São eles que nos possibilitam a sobrevivência e a adaptação aos outros e às condições do meio e, fazem com que possamos progredir na nossa realização.

            No âmbito do estudo da cultura, como já havia dito anteriormente, decidi aprofundar um pouco melhor a cultura indiana. Assim, vou abordar como é o namoro na Índia, a mulher na cultura indiana, o casamento hindu e as viúvas na cultura indiana, entre outros temas.

Desde o século XXI, a Índia tem evoluído economicamente, tornando-se assim na maior democracia do mundo, com uma população de mais 1,1 bilhão (mil milhões) de pessoas, e na quarta maior economia do Mundo.

            A cultura indiana representa uma das culturas mais antigas da história que, com o passar dos séculos, recebeu várias influências tanto orientais como ocidentais. Esta cultura é considerada rica e diversificada em muitos aspetos como a linguagem, a arte, a música e o cinema. Apesar destas diversidades, o povo indiano é extremamente ligado à nação e aos ancestrais, o que a torna uma sociedade muito tradicional.

        No campo da literatura, as tradições literárias mais antigas eram comunicadas oralmente e só posteriormente passaram a ser transcritas. Nessas transcrições estão textos sagrados como Vedas e heroicos como Maabárata e Ramáiana. Rabindranath Tagore foi o único escritor indiano a ganhar o Prémio Nobel da Literatura.

          Já no que toca ao cinema, a Índia é o maior produtor mundial de filmes nos dias de hoje. A produção cinematográfica local concentra-se em Bombaim, Noida, Madrasta e Hiderabade.

         A dança mais popular da Índia é a Bharathanatyam. É uma dança clássica tradicional, onde os dançarinos fazem lindos e suaves movimentos e poses. As letras deste tipo musical falam das grandes realizações de deuses e heróis da mitologia. Esta dança surgiu há mais de 5 mil anos no sul da Índia e influenciou outros estilos de dança em várias regiões da Índia e do continente asiático.

        Quanto à religião a Índia é um grande berço de diversas religiões, onde a maior religião é o hinduísmo que abrange cerca de 80,5 por cento (%) da população. Apesar disto também existem grupos que praticam o islamismo, o jainismo, o siquismo, o cristianismo e o budismo, sendo esta última a religião menos praticada na Índia.

        Embora tenha sido oficialmente extinto, o sistema de castas ainda faz parte da cultura hindu, ainda que tenha sido modificado no seu formato original. No sistema antigo, as pessoas eram divididas de acordo com sua posição social. Os grupos (castas) eram: brâmanes (religiosos e nobres), xatrias (guerreiros), vaixias (agricultores e comerciantes), sudras (escravos) e párias (sem castas). 

        Não é fácil para uma mulher do ocidental, viver num país cheio de crenças, superstições e rituais, onde ela só pode dizer o nome do marido no dia do casamento e jamais poderá chamar a sogra pelo nome. Uma menina não pode escolher o seu marido, pois o compromisso da união é com a etnia a que pertence e não com os seus sentimentos. E para protegê-la contra a esperteza do coração, nada melhor do que lhe determinar um casamento o mais jovem possível. Por isso vemos tantas crianças viúvas a sofrer. Normalmente a esposa vai morar para casa do marido, com os sogros e toda a família, servindo a todos os caprichos da sogra. Deixa as suas antigas roupas na sua casa e leva só as novas para casa do marido. A mulher usa o mangala (um colar que representa o compromisso de união, fidelidade, lealdade e boa sorte) e assim é um meio de mostrar como está casada.

        Antigamente era usada a prática do Sati, que obrigava a mulher a ser queimada junto com o corpo do marido. Este costume teve início durante as invasões islâmicas, para as mulheres não servirem para o invasor. A prática do Sati foi rigorosamente proibida, mas algumas mulheres principalmente nas aldeias ainda fogem da lei e praticam.

         Na Índia existem muitas mais crianças rapazes do que raparigas, o que é muito raro em todo o mundo, isso deve-se ao fetocídio (expulsão do feto por livre vontade), que apesar de ser proibido na lei, continua a verificar-se. As famílias continuam a prestigiar o nascimento do sexo masculino, sendo uma tristeza o nascimento de meninas. O fetocídio agravou-se com a utilização do exame de ultra-sonografia nas mulheres grávidas, como ficam a conhecer o sexo do bebé com antecedência, se for menina os pais pedem para os médicos a retirarem como se trata-se de um cancro. O facto é tão grave que o governo do país já se preocupa com tal desproporção entre os sexos. Como medida radical o exame só pode ser realizado em mulheres com risco de gravidez. Mesmo assim alguns médicos praticam o aborto seletivo, infringindo a lei. Nas classes mais baixas que não podem pagar um obstetra, a criança (menina), quando nasce é atirada ao Rio Ganges. O mais triste é saber que em qualquer um dos casos, a decisão é tomada pelo marido, sem que a mulher possa participar, quer ela queira ou não, terá de obedecer.

        Na sociedade indiana são os pais que escolhem a noiva para os filhos, que não tem direito a exercer a sua vontade de decisão. Mais de noventa porcento dos casamentos são realizados sem nenhum período de namoro. É frequente na Índia que o noivo e a noiva, no dia do casamento, estejam a ver-se pela segunda vez na vida. Sem namoro, a escolha de um bom partido cabe aos pais dos futuros noivos (chama-se a isso “arranged marriage”). Quando os filhos estão preparados para o casamento, os pais encarregam-se de ver as possibilidades entre famílias conhecidas.

        O baixo número de separações e divórcios no país revela que o namoro não é essencial para o sucesso da união estável entre marido e mulher. Os indianos acreditam que a vida familiar é um estado natural, onde há mais capacidade de serem felizes e realizarem as mais altas inspirações dentro da sua religião.

        O casamento é muito importante na cultura indiana. Após o nascimento dos filhos, os pais começam imediatamente a juntar dinheiro, para este grandioso evento que durará três dias. No primeiro dia costuma haver muita dança ao ritmo de músicas tradicionais, sucede-se, no segundo dia, a cerimónia de hena (Mehendi) para as mulheres, principalmente para a noiva, que cobre os braços até ao cotovelo e as pernas até aos joelhos de complexos desenhos feitos em hena, reminiscentes dos mais complicados bordados ou rendas. No terceiro dia, ocorre a procissão do noivo (Baaraal), em que este chega a casa da noiva a cavalo ou elefante, e a cerimónia religiosa, seguida de uma receção. Os saris são bordados a pedras e ouro e passam de geração em geração porque não têm tamanho (são sempre cinco metros de tecido meticulosamente enrolados no corpo) e porque são intemporais. Contudo, a maioria dos indianos têm casamentos arranjados pelos seus pais e por outros membros da família respeitados, com o consentimento do noivo e da noiva. O casamento é planeado para toda a vida, sendo a taxa de divórcio extremamente baixa. O casamento na infância ainda é uma prática comum, já que metade das mulheres indianas casa antes dos dezoito anos.

        Ainda hoje, em muitas regiões da Índia, a viúva carrega um fardo doloroso, pois além de ser vista como um peso para a família, ela é também olhada como sexualmente perigosa. A família do marido morto usa todas as maneiras para ficar com as propriedades deixadas por esse, sem assumir a responsabilidade de sustentá-la. Muitas vezes, a pobre viúva é queimada devido aos seus dotes. Como é rodeada de preconceitos e superstições, ela não consegue trabalho e acaba por ir viver nas chamadas Casas das Viúvas, que são uns velhos prédios, onde são obrigadas a viverem o resto da sua vida, uma vez que a maior parte das viúvas não é aceite na sua família. Para se submeter à “purificação”, a viúva tem que deixar qualquer tipo de contacto com os prazeres da vida e viver em sofrimento. As viúvas têm de seguir diversas regras, como por exemplo, dormir no chão; repetir canções e orações durante 6 horas diárias; não comer fritos (considerados alimentos quentes que induzem ao sexo); mendigar à beira rio Ganges (onde se calcula que existam milhares delas); viver em completa pobreza, desempregada, sem acesso aos meios de produção, sem educação formal e sofrendo por superstições que ainda estão bastante relacionadas com a cultura indiana.

        Um político em 1956 disse que todas as viúvas deviam ser consideradas iguais a todas as outras mulheres, mas a tradição fala mais alto. Quando a mulher fica viúva, ela tem as pulseiras quebradas, o cabelo rapado, tem que se desfazer das suas roupas e é obrigada a usar um sari branco, para diferenciá-las das outras mulheres, uma vez que se tornou impura, não pode ter contacto com as outras mulheres a não ser viúvas e muito menos com crianças. Mesmo tendo que se sujeitar às péssimas condições das Casas das Viúvas, muitas preferem viver lá, do que, viver com a família do ex-marido, onde são constantemente violadas sexualmente além de serem humilhadas e maltratadas fisicamente pelos membros da família. Apesar das mulheres viverem em completa miséria, os administradores ganham muito dinheiro, pedindo ajuda financeira e vendendo serviços sexuais das jovens viúvas.

        Devido a toda esta miséria a que estão submetidas, a morte das mulheres viúvas chega a ser 85% maior do que a das mulheres casadas, e o mundo não dá conta disso.

        Após esta reflexão pude concluir que os indianos valorizam muito a sua cultura, transmitindo características e valores únicos, como a culinária rica em temperos e especiarias, o vestuário feminino sempre muito colorido, a forte espiritualidade, a crença em deuses, os símbolos com diferentes funções e significados, os diversos cultivos, entre outros.

       Contudo, a cultura indiana é muito diferente da cultura portuguesa, principalmente no que se refere ao papel e à forma de como as mulheres são tratadas. A cultura Indiana é marcada com costumes próprios onde a mulher não tem "voz" para expressar os seus pensamentos e sentimentos, elas são tratadas como seres inferiores, sendo obrigadas a obedecer ao marido, que não foram elas que escolheram, pois são os pais que escolhem o noivo.

         Felizmente, em Portugal, as mulheres conseguiram alcançar um lugar na sociedade, conseguindo alcançar o direito ao voto, cargos políticos, e a sua presença na vida pública evidencia que nos encontramos numa sociedade mista, sem discriminação sexual jurídica, pelo menos, no que se refere a direitos e obrigações. Quanto à vida sentimental, a mulher é livre de escolher o seu parceiro, e cada vez mais, é habitual as mulheres não quererem aderir ao casamento e terem filhos mais tarde, por causa da profissão e da vida social.

        Outro ponto de oposição entre a cultura portuguesa e a indiana é que ao contrário do que acontece na cultura indiana, em Portugal a mulher que fica viúva pode voltar a casar, se assim o entender. Não tem de se submeter a qualquer ritual, nem ficar presa numa casa para viúvas como acontece na Índia dos costumes religiosos do hinduísmo, onde ser-se viúva, é uma tragédia, uma fatalidade, uma maldição.

        Assim, posso concluir que a Índia é um país de cultura diversificada, baseada na religião que cada um adota, mas também um país machista, que discrimina bastante as mulheres. As grandes diferenças entre esta cultura e a portuguesa são notórias, quer nas crenças, na alimentação, no vestuário e nas tradições, quer na forma como são vistas e tratadas as mulheres, o que dificultaria a integração de um português nos costumes da sociedade Indiana.

           A propósito da cultura indiana sugiro a visualização do vídeo que se encontra no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=-DXqz09YnCo.

 

Bibliografia:

            o   https://sites.google.com/site/viagemvirtualaindia/histria;

o   Manual de psicologia do 12ºano;

o   https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_da_%C3%8Dndia;

o   Fichas formativas.

 

                                        

                                                                           

 

- Natércia Rodrigues, 12ºA nº17